sexta-feira, maio 19, 2006

Na corda bamba!


Manhã bonita de cor azul! Céu de inverno chegando! Friozinho batendo trazido pelo vento que sopra ainda manso. Heparreiy! O sol lá em cima nos cede o calor de seus raios esquentando as plantas que brotam em chão sem teto, fazendo o verde brilhar, esquenta os telhados das casas, as pernas friorentas de quem senta na porta de casa "pro sol quentá”, esquenta o asfalto e o coração de quem o deixa entrar!

Sexta-feira de Oxalá! ÈPA BÀBÁ! Que traga sua paz aos homens que sofrem de inquietação e falta de amor na terra cinza que deixei pra traz! Guerra civil em São Paulo! E muitos amigos tentando viver uma vida normal no meio do caos! Que estejam todos protegidos!

Hoje busco uma calma de quem nada busca! Lembrando dizeres que chegaram até mim como palavras de grande ensinamento:
"Quando você encontra ´quem você é`,
quando você se dá conta...
o AGORA está sempre perfeito.
E aí nasce uma nova possibilidade de ação:
a ação inativa.
Ou seja, o fazer sem fazer,
que não está baseado no desejo.
Nisso, acontece o que tem que acontecer."

É difícil não ter querer! Querer de coisas que aconteçam logo, querer de amor, querer estar em algum lugar que não é aqui onde estou, querer fazer, querer criar, querer ver, querer ter, enfim... Querer, querer, querer. Já aprendi que querer nem sempre é poder! Que poder mesmo é não querer nada. E aí quando você não quer a vida fica com o querer por você! Como diz Fernando Pessoa, “Quem quer pouco tem tudo, quem quer nada é livre”. Eu quero essa liberdade! Apesar de que só de pensar nisso já tenho um novo querer! Impossível para algumas coisas deixar o querer de lado! Mas acho que o querer que deixa a vida fluir, que está nos caminhos do Flow é mesmo esse querer da liberdade, de deixar a vida viver em nós! Foi dele que experimentei há alguns meses e vi e senti coisas acontecerem com tal facilidade, tal intensidade e alegria que é nele que quero permanecer!
Uma tarefa árdua, porque quando coisas boas começam a acontecer elas vão trazendo pessoas e momentos em sua vida que te fazem querer mais, querer a permanência que nem sempre é capaz e aí... atrapalham esta paz!
Hoje eu tenho um querer que estou aprendendo a acalmar. Que só de pensar nele milhares de quere (res) aparecem em mim, pipocam como milho dentro de panela quente com óleo! Pulam de dentro da minha cabeça, do meu coração, fazem meu corpo inquieto e são capazes de tomar conta de tudo em mim, de me fazer esquecer de coisas que também são importantes, que talvez sejam o querer da vida, coisas que vão me trazer sorrisos, vão me fazer aprender, mas NÃO! Esses quere (res) quase indomáveis são “sapecos”, teimosos e espaçosos! Tenho mesmo é que dar um chega pra lá neles, puxar a orelha, virar o rosto e não olhar, pra ver se eles se acalmam e deixam meu caminho andar! Porque até para chegar lá, onde está este meu maior querer, tenho que deixar as coisas fluírem, o tempo passar!
E assim tento trazer esta calma para perto de mim! Para ocupar o espaço inquieto causado pelos desejos!

Engraçada a vida! Quando a gente pensa que já amadureceu pra certa coisa, que para tal situação a gente não caminha mais com passo de equilibrista em corda bamba, há há há, aparece algo que “desbaratina” nosso caminhar e nos torna outra vez criança! Aí tem que crescer outra vez. Mas o bom mesmo é que cada vez que a gente cresce um pouquinho as experiências vão ficando na nossa mochila e, se a gente quiser, elas podem nos servir de grandes lições para caminharmos com mais segurança, mesmo que na corda ainda bamba! Eu acho que a corda da minha vida vai estar sempre bamba! Porque sou gente; e gente é um ser incompleto! E ser incompleto é estar sempre voltando ao estado de criança, aprendendo e crescendo!

Hum... acabo de encontrar uma explicação plausível para esta variação de estados de ser! É que a cada momento da vida vou me encontrando, vou descobrindo quem eu sou, vou me dando conta! E quando descubro tudo isso, muita coisa muda. E aí já não sei mais quem sou de novo! E o AGORA já não é mais o mesmo agora de ontem. E começo novamente esta busca, que é cheia de querer.

Que bom!
Hoje eu vou tentar não ter querer! Amanhã... vai saber... O importante é não esquecer que
“esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade!” Por isso o melhor é se entregar, sem medo!!!

AXÉ!

Um comentário:

Flor de Câmi disse...

Menina Fulô. Seu texto é tão selvagem que até me espantei de verdade. É uma escrita, desculpe o pendantismo da expressão, muito desejante, que quer se acalmar o tempo todo, mas se inquieta. Sabe, tenho participado de um grupo de discussão psicanalítica aqui em São Paulo (a psicanálise sempre foi uma paixão para mim) e outro dia a discussão era sobre a sociedade em que estamos vivendo. Nós a chamamos de sociedade de controle. Até há algumas décadas, vivíamos sob a sociedade da disciplina. Não são conceitos abstratos. Na sociedade da disciplina, instituições como a família, o estado, a escola, o trabalho, orientavam nossa vida dentro de uma ordem por assim dizer patriarcal. Tinha-se a autoridade, seja o pai, o patrão, o governo, o partido, bem visível e hierarquizada. Aí veio a tal da pós-modernidade e sua promessa de liberdade. Durou pouco essa promessa. Hoje se prefere o termo hipermodernidade. Vivemos então sob a sociedade do controle em que aquelas "velhas" instituições já não servem. Surgiram novas formas de controle sob a falsa promessa de que há remédio para tudo. Exemplos: a medicalização dos sentimentos e angústias com os anti-depressivos e fármacos de felicidade; a padronização dos corpos; as dietas e receitas para longevidade que mudam ao sabor do mercado; os livros de auto-ajuda que só ajudam os autores a engordar sua conta bancária; o sexo como mercadoria a ser desfrutada rapidamente e descartada para depois ser recomprada; a intimidade devassada pelos big brothers como câmeras, escutas, orkut, internet; as crenças de pacotilha que se escolhe no supermercado; a precariedade do trabalho e outras formas de controle. Essas formas de controle são muito mais nocivas porque são tidas como verdades incontestáveis. A grande sacada de Marx foi ver como as idéias de uma pequena classe dominante se tornam verdades indiscutíveis para a maioria, como se não pudesse haver outra ética a nos orientar. E aqui, depois de toda essa digressão, que espero vc não ter achado demasiado cacete, eu chego a seu texto. Menina Fulô, a frase que mais me impressionou como uma busca de uma ética do desejo é esta: "E assim tento trazer esta calma para perto de mim! Para ocupar o espaço inquieto causado pelos desejos!" Será mesmo possível? Eu espero que sim, pois busco a mesma coisa. Em resumo, gostei muito. A gente precisa sentar um dia com calma e conversar. Porque vc é muito agitada. Deus me livre.

Um beijo

André Nigri

Obs: Comentário sobre o texto "Na corda bamba" encaminhado por email e autorizado a ser postado aqui! ;)