quarta-feira, março 21, 2007

De asas... e raízes...


"Sinfonia nº 6 para quadris, asas e sementes e/ou Da sabedoria de raízes e/ou Do transbordo e/ou Da queda de um anjo

Há tempos deixei de lado a gravidade...
piso a terra por puro gosto, por saudade do meu primeiro instante fora, exposto...
Lembro de minha mãe, de seu rosto,contando que, dentro, eu era anjo e caí... (sabor de leite e colostro)
Tomei gosto por pesar, por descer...todo anjo deveria aproveitar cada oportunidade de cair, nascer...
J’essayerai de te donner...

Há tempos muita leveza não me apetece
só creio no vôo partido da terra, que a ela retorna e desce, se planta e se cresce...
Não um pousar de sementes duvidosas nos artelhos, frutas em mãos verdes, uvas rasas nos joelhos...
mas algo além do ápice, de cereal, de cadarços vermelhos...
Lembro de minha avó, de seus braços estreitos, ensinando a regar...
dizia que olores, suores, azedumes de flores é o que as águas vinham inspirar
mas de modo algum devia haver espera...
e se virava de costas...
preferia a presença à resposta...
Tomei gosto por estar e desaparecer...
J’essayerai de te donner...

Sempre quis ser algo de cheiro, nunca de eterno...
que deixa um rasgo, um risco, granizo,resquício de raiz no ar, primórdio de inverno,algo apesar...
Acordo agora com lembranças tuas...
me contava que raízes e perfumes fizeram um acordo:
o horizonte continua, o além é o transbordo...
Tomei gosto pelo ultrapassar, pelo perecer......
la distance que tu veut...

Levanto-me e olho pro céu
aguçando distância nas vontades
mas o papel de suas asas
não suporta minhas extremidades,
o peso de meus poros, minhas casas e cidades...
Faça o favor então de me emprestar
teus olhos, lábios, teu cheiro,que assim meu contorno eu beiro
até me transbordar,pois teus quadris me germina me planto suas asas na terra
pr’uma árvore de ar...
Tomei gosto por sentir-me em ti crescer......
la distance que tu veut...

Sei que teus pés são saudosos de chão
e mesmo que hoje, ao descer um pouco,
diga “não” já ao primeiro passo,
tenho paciência nas raízes e, por isso,de quem voa, me despeço
não com tempo mas com espaço:
- Até perto!E, se no alto do vôo te faltar ar, é certo, não te faltará, na terra, alento...
me viro de costas e sento...
Tomei gosto pela queda, pelo umedecer...
J’essayerai de te donner la distance que tu veut..."

deixado num ninho no alto de uma árvore... por João Victor...

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