quinta-feira, abril 20, 2006

Vestida de Princesa


Vestida de princesa do vento vejo sorrisos ao meu redor!
Vejo abraçar na varanda a rede e o sol! Se encaixarem em harmonia com o vento que balança as cores penduradas no ar.
E vejo sorrisos por todo lugar!
Libélulas coloridas subindo as escadas, pousando na cozinha. Pincéis em descanso, sujos de cores depois de trabalhar! Vejo um gramado vermelho abraçado com o conforto no canto da sala. Jardins de flores de pano em almofadas querendo se confortar!
Muitas palavras espalhadas por toda parte! A arte, a arte!
Palavras escondidas, palavras que aguardam para serem ditas, lidas, escutadas, engolidas, digeridas, abstraídas, absorvidas!
Palavras vividas!
Vejo o rastro de saudades deixado por quem se despediu hoje pela manhã levando sorrisos para perto do mar.

Vejo os meus sorrisos me vendo passar! Vejo orixás a se abraçar!
A borboleta mais linda do meu jardim acordando de cara amassada, com a alma meio embrulhada esperando o toque do momento de se entregar!
Olhos verdes e meias coloridas sorriem para mim sentados no chão da sala escutando vinil tocar e picando papel de enfeitar.
Escuto o som dos pássaros que cantam para acordar o mundo! E cantam o dia todo! Escuto também a orquestra magistral dos cachorros uivando por suas cadelas, que tomam banho de lua e garoa neste vale de ruelas.

Becos, ecos, e a vizinhança, samba, máquina de lavar roupa, brega, Caetano, sertanejo, liquidificador, desafinados empolgados, outros mais chorosos, gritos de exclamações, BÊBÊÊÊÊ, e os mega fones dos caminhões, vendendo frutas, queijo, gás!
Me visita o querer de pegar um carro desses e sair pelos becos vendendo sonhos e distribuindo sorrisos.
Vejo bonecas de pano dando cambalhotas no quarto. Tentando saltar de um espaço de avisos! Querendo avisar!
Escuto a lembrança contar do momento passado, no qual eu vi na colcha amarela da cama uma esperança, que veio visitar este lar e abençoar os seus. Quando chegou pousou na menina Manu, que foi lá na sala nos chamar.
Lembro do olhar brilhante, de dois seres amantes, vendo o movimento do Louva-deus bailar.
Vejo a leveza sorrir, seus olhos brilhando a nos observar!
As folhas vermelhas da planta na varanda sentindo o frio chegar, anunciando o outono, chamando o inverno.
Me vejo dançando na sala e cantando pros meus Orixás! Dando de beber e fumar aos Exus, agradecendo a Oxalá, saudando Yemanjá, sorrindo sapeca para os Ibejes, cruzando as espadas com São Jorge e Ogun, invocando Iansã e vendo Xangô me espiar! Saravá!
Vejo sorrisos olhando para mim! A calma querendo sentar!
Pensamentos vem me contar para "acordar que a estrada está a passar"!

Vejo o Rio de Janeiro! Já passou março, há muito fevereiro, e o abril já vai acabar! Será o maio perto do mar?
Lembro que tenho que deixar o flow me levar e que estou aqui!
Fumo e deixo ficar.
Vejo a satisfação olhando pra mim com cara de admiração!
Chega a vontade de ligar pra pessoas queridas! Ligo, falo sorrindo! Vejo sorrisos sorrindo para mim.
E danço. Danço na sala que me abraça.
Olho para fora, penduro mais cores no ar! Presas em palitos feitos para rodar quando o vento passar! Vejo, escuto e sinto o vento passar! E vejo as cores rodando, rodando, rodando!
E Vinícius cantando, gritando como um bêbado abraçado em seu cão engarrafado, companheiro, na tonga da mironga!
Me sinto em meu terreiro! Por isso, peço licença às palavras e me levanto destes escritos. Vou me deitar na rede! ...
...
Sorrio e vejo sorrisos olhando para mim! NA TONGA DA MIRONGA DO CABURETÊ! Um preto veio gritando!
Na vitrola Maria Bethânia afirma que foi o que tinha de ser.
Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser

Inquietude da porra que gosta de viver em mim.
Dou atenção a ela e penso nas palavras lindas de um homem que foi pego pelo encanto. Tento responder:
Se me viu criança e também me viu mulher
É porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas
Porque encontras-te minh'alma
Como um amanhecer de uma vontade que não tinha dever nem querer.
Ela só sabia ser. Desaprendeu das coisas. Se desprendeu. Agora,
Só ser! Ser sua, ser minha, ser de todos os sorrisos.
E disseram pra essa vontade que a vida queria gozar,
e que aí era só alegria!!!! Feito que nem Folia de boi em carnaval de Olinda.
Aí então, essa vontade resolveu se abraçar ao sorriso pra fazer a vida gozar! E começou "a dança da vida", foi sorriso pra tanto lado, alegria de lá e de cá, todo mundo se dando aos prazeres para fazer a vida gozar.

Às vezes é até difícil de acreditar!
Salve o flow!!!


Feliz! Com a vida leve e solta como eu sempre quis!

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